terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Onde Está Carmen Sandiego?

Milão

Jesus, Maria, José! Não voltarei nunca mais à Itália! Além de ser tão desorganizado quanto o Brasil, este maldito lugar arruinou meu reiveiom e minhas finanças. Depois de descobrir que suprimiram os trens venezianos para Nice, vim para Milão na vã expectativa de finalmente conseguir vazar desta nojenta bota. No guichê das reservas, onde uma fila-sucuri serpenteava, foi-me informado que seria melhor ir para Gênova e de lá, aí sim, tomar o trem para a França. Mal chegado à pátria de Colombo (como um monumento do tamanho dum bonde faz questão de anunciar logo à porta da estação Piazza Principe), eis que descubro que os ferroviários estão em greve no além-Pó.
Puta que la merda!
Pergunto se há previsão para o término e dizem-me que ela já dura cerca de vinte dias! Caraças! Por que esses cornínidas não me avisaram logo de cara em Veneza que não há mais trem para Nice? Volto para Milão (reparem só, tudo num único dia: Veneza–Milão–Gênova–Milão) e decido passar uma noite como mendigo, dormir aqui mesmo na sala de espera e tomar o trem noturno damanhã para Barcelona e comemorar alegremente o ano novo chacoalhando numa via férrea. Vou fazer a reserva e, surpresa!, não há mais lugares. Tento Paris, idem. Só me restou voltar para Munique, romper a cidra Cereser, beber o internacionalmente renomado vinho seco Pol (sic!) Lorraine (o favorito da mamãe...) e daí partir para a capital dos esnobes e então a capital dos deportadores de brasileiros. Agora a situação é crítica: tenho vinte e três euros no bolso – mais uns cento e poucos florins, o que não dá um merrel –, quatro dias para meu vôo de regresso e muitos quilômetros pela frente...
(Só me falta agora o pombo que me voa sobre a cabeça cagar em mim.)
E tudo “por causa de quê”? Por ter cogitado a Itália como o caminho mais lógico rumo ao Sul, rumo a Barcelona, rumo a Madri enfim. Mas, idiota que sou, adstringi-me apenas aos banais arrazoadas da geometria euclidiana sem considerar o elementaríssimo fator avacalhação em tudo o que diz respeito à península! Para vocês não julgarem o meu estresse sem fundamento (afinal só na Argentina há mais puxa-sacos da Itália do que no Brasil...), consideram a foto abaixo:

A informação “ritardo” só encontrei por estas bandas. O fato de que ela precisa aparecer do lado do horário de partida já assinala bem o desgosto pela pontualidade.
(Entrementes, como se lesse meus pensamentos, o engravatado à frente, com um rosto entre galã, padeiro da esquina e Truffaut, tendo ao lado uma caixa com vinho, fita-me com ares de reprovação....)
Se o trem não atrasar mais de quinze horas, amanhã pela tarde desembarcarei na Bavária como um filho que passou anos a peregrinar por desertos e volve à casa.

Minha suntuosa morada por uma noite, embora carente de aquecimento central. A estação é bonita pra burro, mas por todo o canto se sente o cheirinho do fascismo (aliás os próprios fasces estão em mosaicos pelo chão e tudo quer relembrar o Império Romano.)

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