quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Dresden: Capital dos Emos (e também do Barroco Alemão!)


Viena

Estive por dois dias em Dresden e outros dois em Munique (irmã do Ruan). Não tenho foto nenhuma para comprovar a estadia, então não vos resta senão acreditar na minha palavra, que usualmente vale tanto quanto os vetustos CDs da American Online, marcos da República de Weimar, dinheirinho Mabel ou discos do Wando autografados. A bateria da pobre câmera arriara nos últimos dias berlinenses e, sem adaptador, não pude recarregar a bichinha. Não há tragédia alguma aí: primeiro porque vocês podem encontrar fotos muito melhores no Google do que aquelas que eu faria. Há duas modalidades de fotografias que são exibidas da Europa – o lado ensolarado, campos verdinhos, gente alegre e feliz nas praças cheias, árvores floridas, o que compõe 90% das imagens que se podem encontrar em revistas, jornais, guias turísticos etc.; o restante, tirado no inverno, não mostra o tempo escroto, a chuva persistente, poças d’água e caboclos encapuzados; o que aparece são ruas poeticamente cobertas de neve como em cartões postais natalinos.
Há outra abonação em favor da carência do fotografias. Desdo incidente das irmãs inglesas que forjaram fotos de fadas, isso lá nos anos 20, a credibilidade de semelhante meio está abalada. O mais incrível desse episódio foi o número de neguinho que foi embalado pela lorota!


E na época dizia-se: “E temos de colonizar a África, porque os pobres nativos estão num estado tal de barbárie que se entregam a crendices, manipansos, fetiches!”
Em Dresden, pela primeira vez senti-me na Zuropa! Porém mais marcante que o Zwinger, que as lindas igrejas ou o Elba foi a bizarra concentração de pré-adolescentes púberes juvenis com seus penteados e indumentárias emos expressando profundos e plangentes sofrimentos. Lastimável o estado da juventude alemã, aliás, quase extinta... Encontram-se tais pobres criaturas numa passagem subterrânea, análogo do Caminho Niemayer em Niterói para toda a espécie de aborrecente em crise.
Nessa cidade, talvez sob influência da atmosfera emo, passei momentos de pura depressão. Imaginem a cena patética: um jovem, abandonado no velho burgo, sentado num restaurante vietnamita, bebendo o pior suco de laranja da história, a ouvir um Luan e Vanessa do Sudeste Asiático, enquanto tinha o Dresdner Morgen Post diante dos olhos, a chuva e o vento frio lá fora. Esse matutino (adoro essa palavra!) é o Extra e o Meia-hora da cidade: em matéria de imprensa marrom, a Europa tem longa tradição, até porque, pelo menos, os pobres dela foram minimamente alfabetizados há séculos. Aquilatem duas das manchetes do jornal: Oma (71) verbrannte – “Vovó (71) torrou” – e Vor den Augen der Tochter: Mutti fuhr in den Tod – “Diante dos olhos da filha: mãezinha dirigiu para a morte”. As únicas diferenças dos nossos congêneres são a aparição da “Gata da Hora” com a peitaria de fora e a inexistência do valiosíssimo glossário de palavras difíceis como, por exemplo, nas edições tupiniquins, “panela”, “cachorro”, “problema” (“isso pra mim é grego!” diz o leitor, que não é filólogo).
Em Munique, dois encontros mefistofélicos. Um na Catedral, onde, no chão, há uma pegada que teria sido feito pelo próprio cramunhão quando da construção da igreja. Desse ponto é impossível ver as janelas laterais e o tinhoso teria – sempre no erro – crido que a piedosa população erguera uma catedral sem janelas! Mesmo sem pôr a pata naquela lajota, afinal, todos sabem, sou cagão pacas, pude constatar a veracidade caô. O segundo foi ontem na Hofbräuhaus, famosa cervejaria diante da qual Hitler e seus comparsas encontraram-se para a tentativa de tomada da prefeitura, o ultramanjado Putsch da Cervejaria. Vejam como o nazismo era um movimento fuleiro: se eu combinasse um ataque ao Godofredo Pinto e partisse da Cantareira, vocês acham que teria alguma chance de sucesso?! Mas não! Não quero mais falar dessa maldita cidade (Niterói, claro)! Pois bem, estava na Hofbräuhaus quando encontrei o Diabo em pessoa na pele dum velhinho simpático com uma nareba de tucano. O velho, além de assediar incansavelmente a garçonete (outro universal: velho tarado), teimou em oferecer-me rapé. Relutantemente eu, também possuidor de não pequeno instrumento olfativo, fui lá dar uma cafungada enquanto perguntava ao coroa diabólico se aquilo era saudável. Falando seu alemão-bávaro-algarvio-cassanje, ininteligível para os próprios teutônicos, ele asseverou que não havia problema, enquanto eu virava a caixinha e deparava-me com um anúncio de “produto prejudicial à saúde” do tamanho dum autedor!
Cheguei há pouco em Viena. Pode parecer roteiro de James Bond, porém o único grande inimigo que tenho aqui é a falta de recursos e a única coisa que tenho de salvar, em vez de todo o mundo livre ou Sua Majestade, é minha própria carcaça.
Degusto um kebab e desejo, com pé atrás, “Feliz Natal” ao camarada turco, sem o qual teria já morrido de fome. Ele responde de soslaio e relembra o dia em que eles quase tomaram isto daqui...

P.S.: Não suporto essa paulistada na Europa, filhos de pecuaristas, erres intermináveis (a língua portuguesa nunca foi tão irritante)! Estou em Viena, cacíldis! Não em Ribeirão Preto!

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